Dark pools: o lado obscuro das finanças?
Dark pools são plataformas de Trading frequentemente utilizadas pelo investidor institucional para executar ordens de compra ou venda ações com total discrição.
Esse termo geralmente sugere um cenário repleto de instituições poderosas operando em segredo, no limite da legalidade. No entanto, essas empresas e as suas operações não são tão misteriosas quanto parecem.
Elas proporcionam completa confidencialidade aos seus usuários e asseguram um impacto mínimo nos preços. Trata-se de um “mundo subterrâneo” no qual o sigilo é fundamental e os interesses financeiros são significativos.
Compreendendo os dark pools
Os dark pools são plataformas de Trading privadas e anônimas, conhecidas como Alternative Trading Systems (AST) ou Sistemas de Negociação Alternativos em português, usadas para negociar ações, derivativos e outros instrumentos financeiros.
Eles permitem que investidores institucionais, como fundos de pensão, bancos e fundos soberanos, negociem grandes blocos de ações com total discrição, longe dos olhos do mercado tradicional.
Essas plataformas de internalização de ordens oferecem aos seus usuários a chamada “liquidez obscura”, que se refere à capacidade de realizar grandes transações sem impactar significativamente os preços de mercado.
As principais características dos dark pools são:
- Natureza privada
Os dark pools garantem a execução discreta das ordens longe dos mercados convencionais, fundamental para o investidor institucional que deseja realizar grandes transações sem afetar o mercado financeiro ou revelar as suas intenções.
- Anonimato
As identidades dos participantes permanecem ocultas até a conclusão da transação, permitindo que eles conduzam as suas estratégias de Trading sem revelar as suas posições ou intenções com antecedência.
- Ausência de impacto no mercado
Com grandes volumes negociados fora do mercado financeiro tradicional, as dark pools minimizam os possíveis movimentos de preços em resposta às transações.
Os dark pools são legais?
Os dark pools são considerados legais, desde que as transações realizadas estejam em conformidade com os quadros regulatórios existentes em cada jurisdição.
Regulação e Supervisão
No Brasil, eles ainda não são permitidos. Contudo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estuda a possibilidade de implementar esse sistema de internalização de ordens, sendo esta uma das pautas da agenda regulatória de 2024 da autarquia.
Segundo a CVM, essa análise “envolve diversos aspectos relevantes, como o enxugamento de liquidez do livro de ordens, o impacto na formação dos preços, regras de transparência dos negócios realizados, dentre outros”.
Já no âmbito internacional, diferentes jurisdições possuem seus próprios conjuntos de regras e mecanismos de supervisão para os dark pools.
Nos Estados Unidos, duas entidades regulam esses sistemas: a Securities and Exchange Commission (SEC), a principal autoridade reguladora, e a Financial Industry Regulatory Authority (FINRA).
Na União Europeia (UE), o Trading realizado nesses sistemas é regulamentado pela Diretiva MiFID e sua continuação, MiFID II. Essas regulamentações visam promover a transparência, reforçar a proteção dos investidores e evitar má conduta.
Para assegurar a integridade das negociações nesses sistemas, essas autoridades reguladoras implementaram medidas de supervisão e regulamentação, como:
- A divulgação detalhada das transações e como os preços são determinados;
- A identificação e gestão de potenciais conflitos de interesse;
- Auditorias e inspeções regulares.
Polêmicas envolvendo os dark pools
Apesar de sua legalidade em algumas jurisdições, os dark pools se envolvem frequentemente em polêmicas, especialmente relacionadas a questões de manipulação de preços e falta de transparência.
Em 2014, por exemplo, a SEC aplicou multas à Barclays e ao Credit Suisse por conflitos de interesse, alegando que eles concederam acesso privilegiado a determinados Traders de alta frequência.
Da mesma forma, em janeiro de 2015, o UBS foi multado em 14,4 milhões de dólares pela SEC por não ter divulgado as taxas de transação em seu dark pool, em conformidade com as regras vigentes.
História dos dark pools
Os dark pools surgiram em 1979, após uma mudança na regulamentação financeira dos Estados Unidos, conhecida como “reg 19c3”, que permitiu pela primeira vez a negociação ativa de ações listadas em bolsas de valores fora daquelas onde foram originalmente listadas.
A nova regulamentação favoreceu o surgimento desses sistemas na década de 1980, permitindo que os Traders negociassem grandes blocos de ordens sem impactar o mercado, e tudo isso de forma confidencial.
O primeiro dark pool conhecido, chamado “After Hours Cross”, foi lançado pela Instinet em 1986. Logo depois, em 1987, a Investment Technology Group (ITG) criou o “POSIT”, o primeiro sistema intradiário.
Naquela época, as transações realizadas nessas plataformas representavam apenas uma pequena fração do mercado, cerca de 3% a 5% de todas as operações.
Em 2007, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) adotou a regulamentação National Market System (NMS), permitindo que os traders buscassem preços melhores fora das bolsas de valores tradicionais.
Essa mudança atraiu novos participantes para o mercado e levou à criação de um grande número de dark pools ao longo dos 10 anos seguintes.
O avanço da tecnologia e o aumento da velocidade de execução, juntamente com a chegada do Trading de alta frequência, contribuíram para essa expansão.
Em 2012, os dark pools já representavam 40% do volume de negociações de ações, com mais de 50 apenas nos Estados Unidos. A maioria dessas plataformas era gerenciada por grandes bancos, como Credit Suisse e Goldman Sachs.
Esse crescimento destacou a importância dos dark pools no mundo do Trading moderno e o seu papel no cenário financeiro atual.
Os maiores dark pools do mundo
- Citadel Securities
Esta subsidiária da Citadel LLC gerencia o dark pool Citadel Connect, conhecido por seus altos volumes de negociação e liquidez.
- Goldman Sachs
Este gigante no setor de serviços financeiros está por trás do dark pool Sigma X e se destaca principalmente por suas opções flexíveis de negociação (capacidade de cruzar ordens ou encaminhá-las para fora).
- Credit Suisse
Este banco de investimento suíço possui o dark pool Crossfinder, um dos maiores do mundo. A excelente reputação do Credit Suisse, bem como a sua vasta base de clientes, contribuíram para o sucesso desta plataforma.
- JPMorgan Chase
O banco de investimento americano, um dos maiores do mundo, gerencia o dark pool JPM-X. A liderança da JPMorgan Chase no cenário internacional e a sua presença global o tornam um importante player no mercado.
Os diferentes tipos de dark pools
- Empresas independentes
Esses dark pools são criados por empresas independentes para uso próprio, visando oferecer aos seus usuários uma plataforma de Trading única e diferenciada para operar em um ambiente neutro.
- Dark pools mantidas por corretoras
Neste tipo de plataforma, os clientes de uma corretora geralmente interagem entre si de forma anônima.
- Dark pools mantidas por bolsas tradicionais
Algumas bolsas de valores estabelecem dark pools proprietárias disponibilizando os benefícios do anonimato e da confidencialidade aos seus usuários.
Vantagens e desvantagens dos dark pools
Vantagens | Desvantagens |
Confidencialidade | Falta de transparência |
Estabilidade de preços | Benefícios desiguais |
Mercado mais eficiente e líquido | Custos ocultos |
Custos reduzidos |
Vantagens dos dark pools
- Confidencialidade
As transações feitas nos dark pools não são visíveis ao público ou à mídia. Essa discrição ajuda a evitar movimentos de preços exagerados que podem ocorrer quando as operações são amplamente divulgadas ou influenciadas pelo sentimento do mercado.
- Estabilidade de preços
Os dark pools limitam o “front running”. Negociações de grande porte podem ser divididas em ordens menores, executadas antes que o preço do ativo sofra uma desvalorização.
- Mercado mais eficiente e líquido
O uso de trading algorítmico e de alta frequência nos dark pools, embora questionável, é considerado uma forma de aumentar a eficiência do mercado, visto que as informações são rapidamente incorporadas aos preços dos ativos.
- Custos reduzidos
As operações realizadas nesses sistemas de internalização de ordens não envolvem a cobrança de taxas pelas bolsas de valores públicas, devido à sua natureza privada.
Desvantagens dos dark pools
- Falta de transparência
Os dark pools são frequentemente criticadas pela falta de transparência e regulamentação já que elas costumam ser fechadas aos investidores de varejo, levantando preocupações sobre uma possível manipulação de mercado.
- Vantagens desiguais
Alguns críticos sugerem que os dark pools oferecem vantagens especiais para investidores institucionais, especialmente através do Trading de alta frequência.
- Custos ocultos
Embora os dark pools possam apresentar custos de transação aparentemente baixos, elas podem cobrar taxas ocultas relacionadas à execução de ordens e ao spread.
O que lembrar sobre os dark pools?
Os dark pools não são tão misteriosos e opacos quanto se pensa. Eles desempenham um papel essencial: fornecem liquidez aos investidores institucionais e garantem a execução de ordens importantes sem impactar o mercado ou causar picos de volatilidade nos preços.
A liberdade de negociar de forma privada e anônima garante a esses investidores a proteção de suas estratégias de investimento e os resguarda contra o “front-running” ou outras formas de manipulação de preços.
Mesmo assim, esses sistemas muitas vezes são alvo de críticas por falta de transparência e tratamento desigual de alguns Traders.
Essas controvérsias questionam o seu impacto na integridade dos mercados financeiros e nos lembram, como Traders independentes, da importância de verificar a confiabilidade de nossas corretoras.
Apaixonado pelo mercado financeiro, Maxime pratica day trading desde os seus 18 anos. Já ministrou mais de cem palestras e treinamentos em prestigiadas escolas de negócios e engenharia na Europa. Atualmente, ele é CEO da Syntax Finance, uma agência que acompanha as principais marcas do setor financeiro mundial em suas estratégias de marketing de conteúdo.
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